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Acabou de entrar numa Zona Iscspianista, caso não seja iscspianista, vírus horrorosos vão entrar pelo computador, subir pelas teclas, entrar nos dedos e caminho aberto para o Cérebro... acéfalos estão a salvo...(Há muitos por ai:)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Prof. Maltez, entrevistado outra vez (rima e tudo, que belo)

O corpo editorial d’”O Encoberto” gostaria de agradecer (mais uma vez)ao Prof. Maltez, pela oportunidade que gentilmente nos concedeu de um “Mail to Mail Interview”
"O Encoberto" - Ficámos surpresos quando durante as férias nos inteiramos, através do seu blog "Sobre o Tempo que Passa", que o link http://www.iscsp.utl.pt/cepp, teria sido apagado naquele que o professor classificou como um "acto de saneamento e censura". O que é exactamente o CEPP? E o que se passou com este link?
Prof. Maltez - Às 22 horas e 39 minutos do dia 23 de Agosto foi reposta a ordem alterada e qualquer navegador já pode consultar sem adjectivações um arquivo objecto de apagão. São 183 MB e 12 000 ficheiros, transformados em consulta pública entre 2000 e 2003 e que pertenciam a um pomposo CEPP, quase exclusivamente constituído pela minha equipa docente que, pelo menos, deixou essa obra palpável, que não pertence ao tradicional discurso da música celestial, prenhe daquelas boas intenções de que o inferno costuma estar cheio. Basta consultar os registos das consultas, o relatório de execução e os milhares e milhares de referências, especialmente num tempo em que muitos medem a ciência pelo quantitativo das ditas. Como, para essa execução informática fomos subsidiados pela FCT, onde quase todos os fundos serviram para compensar o trabalho de dois estudantes que inventaram o modelo de divulgação, os arquivos do CEPP já não são meus, são um bem público, da comunidade que a eles acede. E o que é comum não é de nenhum e por todos deve ser defendido, como aconteceu com a reacção da blogosfera e da imprensa que dela fez eco.
"O Encoberto" - Os atritos entre o Prof. e o Prof. Bilhim têm vindo a aumentar. Tanto que na última conferência das jornadas de C.P. o Prof. Bilhim saiu de rompante a meio da dita cuja, visivelmente perturbado com o que o Prof. estava a dizer. Quer comentar?
Prof. Maltez - As instituições são ideias de obra, onde tem que haver manifestações de comunhão entre os seus membros, todos obedecendo às mesmas regras. E como o absolutismo, em termos de dever já foi revogado pelo Estado de Direito, julgo que neste não é lei o que o príncipe, ou os seus cortesãos, dizem, tal como o príncipe e os mesmos cortesãos estão sujeitos às regras que eles próprios podem emitir. Julgo que já acabou o tempo do "l'état c'est moi". Não comento quem foge aos debates de ideias. Os estudantes foram felizmente testemunhas dessa interpretação de tolerância a críticas não personalizadas.
"O Encoberto" - Quem são os novos donos do poder? Que é como perguntar… O Presidente do nosso Conselho Directivo e mais quantos?
Prof. Maltez - "Os Donos do Poder" é o título de um dos mais brilhantes estudos politológicos de língua portuguesa, onde Raimundo Faaoro, um brasileiro da segunda metade do século XX, aplicou a metodologia weberiana para a análise da sociedade e do Estado no Brasil, demonstrando como a legitimidade patrimonial do velho feudalismo predominava no nosso pós-absolutismo. No ISCSP, os sintomas de escola de regime, oriundos do salazarismo, continuam a perpetuar-se nas presentes encruzilhadas desta democracia pós-autoritária. É verdade das memórias íntimas esse episódio. Qualquer estudante de ciência política o pode descodificar. Mas pouco interessa a personalização, interessa bem mais assumir uma atitude de resistência contra as teses neo-realistas e neo-maquiavélicas que sempre justificaram o totalitarismo e o autoritarismo e assumir a ideia pluralista militante, segundo a qual não há ciência política sem democracia e não há democracia sem separação de poderes e possibilidade de denúncia daquilo que Montesquieu notou: todo aquele que é detentor do poder tende a abusar do poder que tem, indo até onde encontra limites. Logo, era o mesmo Montesquieu que acrescentava a necessidade da própria virtude democrática também dever ser limitada, porque o absolutismo também podia ser democrático, dado que poderia emergir o despotismo de todos. Coisa que já o nosso Silvestre Pinheiro denunciava sobre o desvio oclocrático das aparências de jacobinismo.
"O Encoberto" - "Um desses aliados dos novos donos do poder, ainda há semanas me confessava, no silêncio do gabinete que não tinha dúvidas em mandar-me fuzilar se a revolução dele triunfasse, apesar de continuar meu amigo."
http://www.tempoquepassa.blogspot.com/, "O "big brother"… culpa vai morrer solteira... Toma!"
Ainda bem que a amizade é muita, mas dentro desse mundo muito próprio de lutas de galos, qual o lugar da Instituição, do Conhecimento e… já agora dos Alunos?
Prof. Maltez - A instituição não é da endogamia carreirística que nela se instalou, é do povo que a paga. Por isso é que os concursos universitário deveriam ser todos efectivamente públicos e nacionais, sob controlo externo, para acabarmos com os tradicionais concursos com fotografia, numa escola onde tem funcionado o impulso do convidado para o início de carreira. Eu que entrei na universidade pública por concurso, revolta-me que não tenha sido dado cumprimento a inúmeras deliberações do Conselho Científico sobre a abertura de concursos para catedráticos e para auxiliares, mesmo que com isso introduzíssemos concorrência com os instalados sem qualificações idênticas a muitos doutores, alunos do ISCSP, que não tiveram a sorte neofeudal da protecção de actuais e anteriores donos do poder.
"O Encoberto" - "…embora admita que terei de mudar a senha, até porque as entradas no meu "gmail" podem ser objecto de espionite, quando o faço no computador da universidade."
http://www.tempoquepassa.blogspot.com/ ,"Dificuldades de visualização deste blogue…"
Hackers…? Ou pelo menos o medo destes? É este o tempo a que chegamos no I.S.C.S.P. (e O.)?
Prof. Maltez - Como depois da minha denúncia pública do apagão do CEPP, a resposta formal do senhor presidente do conselho directivo foi a de anunciar um processo de inquérito, coisa que já há meses, sobre lugares paralelos, tinha formalmente proposto ao Conselho Científico, guardarei para esse acto a indicação de prova sobre a matéria.
"O Encoberto" - Tendo em conta os títulos de algumas das personagens iscspianistas envolvidas nos maiores problemas do nosso Instituto, e também alguns relacionamentos professor-aluno que por cá existem, cabe-nos a nós perguntar. Pensa existir alguma ligação directa entre a aquisição de um grau académico mais elevado, o ego inflado, as atitudes mimadas, e a consequente redução de capacidades mentais?
Prof. Maltez - Chateaubriand disse um dia que a aristocracia começou por ser nobreza, passou
depois a ser dos fidalgos (os filhos de algo, isto é da nobreza de serviço) acabou nas vaidades. Acrescentarei, criticando Marx, que não é a luta de classes a principal energia da história, é a luta de invejas.
"O Encoberto" - Que análise faria à actual direcção do I.S.C.S.P.(e O.)?
Prof. Maltez - É o regresso à velha continuidade que pode conduzir a área das ciências sociais, na sua versão institucional, ao sistema de apodrecimento por dentro que fez implodir as universidades privadas da mesma área. E a coincidência dos mesmos actores desses dois processos entre os actuais donos do poder no ISCSP parece não ser simples ficção. Basta percorrer a lista dos accionistas da Universidade Internacional, dos cooperantes da Universidade Lusófona ou dos altos dirigentes da Universidade Moderna, para percebermos que temos tanto que mudar de vida como mudar de discurso. Agora, descobriram que o principal inimigo a derrubar era este entrevistado. Não me sinto honrado com a infâmia, prefiro andar com os pés na lama do caminho e os olhos no sonho, sem fantasmas nem preconceitos. Prefiro Sancho Pança a D. Quixote...
"O Encoberto" - Agora que assumiu as coordenações de C.P. e R.I., o que pretende para estas licenciaturas?
Prof. Maltez - Ainda não foi homologada a acta do Conselho Científico. Ainda estou à espera dos "dossiers" da herança imediatamente pedidos. E não irei personalizar o poder. Na área das relações internacionais, há coordenadores para cada ciclo: Vasconcelos Saldanha, no primeiro ciclo; Almeida Ribeiro no segundo e Sousa Lara no terceiro. Isto é todos os que anteriormente coordenaram a velha UCP. Em ciência política, como sempre foi o meu programa, teremos Manuel Merinho no primeiro ciclo e José Luís Jacinto no segundo. Não convidei o anterior coordenador da UCP para o terceiro ciclo, dadas as ciclópicas tarefas que tem em curso, com a presidência do Conselho Pedagógico, a direcção da revista e a coordenação das áreas de estratégia, estudos africanos e programas de cooperação europeia. Mas teria muito gosto em que todos déssemos o belo exemplo da não omnisciência.
"O Encoberto" - Quais são os desafios do I.S.C.S.P.(e O.) para o futuro?
Prof. Maltez - Reconhecer que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis, a começar por mim. Que hoje mesmo tenho de ir constituir um advogado para me poder instruir sobre a literatura de Kafka. Depois disso, vou criar as condições para a equipa coordenadora das UCPs citadas possa cumprir a respectiva missão, preparar a próxima intervenção no Senado da UTL e tentar saber o que vai o Conselho Directivo fazer sobre aquilo que uma comissão criada pelo Conselho Científico deliberou sobre o CRIPE, o Centro de Estudos em Relações Internacionais, Ciência Política e Estratégia que, apesar de nascer da iniciativa científica e cívica dos respectivos associados, livre dos favores dos donos do poder do ISCSP, está espera do fim de veto de gaveta do Conselho Directivo para poder dar uma pequena parcela de futuro ao ISCSP.